O MAB FAAP (Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado) recebe a partir de 28 de outubro a exposição “Magister Raffaello”. Promovida pelo Consulado da Itália no Brasil em comemoração ao 500º aniversário de morte de Rafael Sanzio, considerado um dos maiores artistas do renascimento italiano, a mostra multimídia foi desenvolvida para levar o visitante numa viagem pela vida e obra do pintor.
Para retratar a carreira desse mestre renascentista, a exposição é dividida em seis salas com grandes telas que projetarão suas obras a partir de uma cronologia que segue o crescimento humano e profissional do artista, levando o visitante a descobrir as cidades por onde ele viveu e as obras que criou.
O passeio pela mostra começa com um autorretrato de Rafael Sanzio, atualmente em exposição na Galeria Uffizi em Florença, e a cronologia dos principais momentos de sua vida. A primeira sala temática, Espaços Habitados, traz o quadro “A cidade ideal”, de um autor desconhecido, mas contemporâneo de Rafael, e que convida o visitante a começar a jornada partindo de Urbino, cidade onde Rafael nasceu, para chegar à Cittá di Castello.
A cidade ideal inspirou Rafael, que a representará em sua primeira obra-prima – “O casamento da virgem”. O artista estava em plena luta pela sobrevivência artística quando chegou a Città di Castello e concebeu a pintura feita para uma igreja da cidade, inicialmente encomendada à oficina do artista Pietro Perugino.
Na sala seguinte, Encontrando Equilíbrio, o público poderá ver um período altamente produtivo de Rafael, já morando em Florença, quando, em uma comissão para a cidade de Perugia, foi convidado por nobre florentina de uma família rica a fazer uma obra em homenagem ao seu filho, morto em uma rixa familiar. A obra “O transporte de Cristo ao Sepulcro”, que estará na exposição, traz a revolução realizada pelo mestre ao relatar a deposição de Cristo: o jovem Grifonetto Baglioni segurando o lençol com o corpo de Cristo.
No terceiro espaço, A Espiritualidade Nobre, o visitante é recebido por uma coleção de madonas e retratos femininos e masculinos, encomendados a Rafael por clientes religiosos e seculares como a família Doni, a mesma que encomendou a Michelangelo a pintura redonda do chamado Doni Tondo, exposta na Galeria Uffizi.
A sala Os Aposentos Papais mostra as boas relações de Rafael com Roma graças ao seu talento e habilidade. “A Escola de Atenas”, “A expulsão de Heliodoro do templo” e “O fogo no Borgo” são obras inéditas na arte ocidental, executadas pelo mestre, e que poderão ser apreciadas. Essas obras são apresentadas em três espaços próximos, onde dois Papas se destacam em santuários especiais – os retratos que o artista lhes dedicou.
Por fim, na sala Utopia e Poder, a jornada pela vida e obra de Rafael termina com a obra “A Transfiguração”, última pintura que simboliza o fim prematuro de uma vida. O artista fez a pintura para o cardeal Júlio de Médici, nomeado para a Catedral de Narbònne. A obra foi comparada a outra bela pintura, “A ressurreição de Lázaro”, de Sebastiano del Piombo, o grande rival de Rafael, que era aluno de Michaelangelo.
Ao longo deste percurso, o visitante encontrará também as “portas do conhecimento”, que mostram imagens de obras de Rafael e de outros artistas contemporâneos ou conhecidos por ele.
A visita poderá ser acompanhada de um áudio-guia, que será disponibilizado no museu, mas o visitante também poderá baixá-lo nas lojas de aplicativos do celular.
A curadoria da exposição é de Claudio Strinati, historiador de arte, especialista em pintura e escultura renascentista, e de Federico Strinati, gestor de promoção e patrimônio cultural.
Um dos maiores artistas do renascimento italiano
Rafael Sanzio nasceu em Urbino, na Itália central, em 1483, e morreu em Roma, em 1520. O artista começou a trabalhar muito jovem e sua grandeza logo foi reconhecida e apreciada em sua época. Ao longo dos séculos, após sua morte, com apenas 37 anos de idade, sua fama foi se consolidando, e Rafael se tornou um dos artistas mais estudados e admirados do mundo.
O artista viveu e trabalhou nos centros mais importantes do Renascimento italiano: Urbino, Città di Castello, Florença e Roma. Ao longo de sua jornada, assimilou um conceito fundamental: a arte pode enriquecer muito a vida de uma pessoa. A arte, com suas formas belas e agradáveis, representa uma condição ideal de bem-estar, felicidade e serenidade a que o ser humano, ao longo dos séculos, sempre aspirou.
Em Urbino, cidade onde nasceu e onde seu pai deixara de herança uma oficina de arte, Rafael não conseguia se lançar como artista e não chegaria a pintar qualquer obra. Ainda adolescente, ele se mudou para centros menores, onde seu trabalho encontrou aceitação e apreciação.
Pintou especialmente em Città di Castello, com os olhos sempre voltados para Perugia, a terra do pintor mais importante da época, Pietro Vannucci, conhecido como Perugino, cujo estilo (e mentalidade) Rafael assimilou, talvez para competir com aquele que começou a declinar exatamente quando conseguiu emergir.
Sob forte recomendação da duquesa Giovanna Feltria della Rovere, Raphael seguiu para Florença, a Capital das Artes, e lá conseguiu obter encomendas de famílias abastadas. A sua fama de retratista supremo e pintor magistral de imagens sacras, para uso privado, chegou aos ouvidos de Atalanta Baglioni, uma nobre perugiana, muito influente na política e na cultura da Itália central da época, que lhe confiou a tarefa de uma obra crucial, destinada à igreja de São Francisco: “O transporte de Cristo ao sepulcro”, uma obra de notável significado político e estético.
O sucesso triunfante dessa obra levou Bramante, o arquiteto da Basílica de São Pedro, em Roma, curador do Papa Júlio II della Rovere, a chamar Rafael à Cidade Eterna para confiar-lhe a tarefa exclusiva de pintar os aposentos papais. O surpreendente resultado alcançado no primeiro aposento, a Sala da Assinatura, encorajou eclesiásticos ilustres, empresários leigos e nobres em posição privilegiada a dar a Rafael todo tipo de atribuições artísticas, diplomáticas e culturais.
Em apenas seis anos, a partir de 1509, Rafael se tornou o primeiro consultor supremo de Júlio II e, depois da morte desse pontífice, em 1513, de seu sucessor, Leão X. Foi principalmente por intermédio de Leão X que Rafael se viu na condição ideal de homem da corte, rodeado de amigos ilustres e influentes, como Baldassar Castiglione. Raphael também se tornou o fundador de uma Escola, por meio da qual conseguiu receber um número considerável de novos pedidos e comissões.
De 1515 até sua morte, Rafael trabalhou ainda como arqueólogo, pintor de cenas teatrais e arquiteto, embora, nesse período, Leão X tenha preferido utilizá-lo mais para obras instrumentais, como os desenhos para as tapeçarias da Capela Sistina ou para as homenagens ao Rei da França Francesco I e sua esposa, por ocasião de importantes acordos diplomáticos e familiares.