Raimundo Cela nasceu em 1890, em Sobral, no interior do Ceará, mas cresceu em uma cidade litorânea próxima: Camocim. O artista - criado em um meio familiar culto - foi para o Rio de Janeiro em 1910 estudar engenharia, desejo de seu pai, e pintura, por ambição própria. Formou-se sob orientação dos maiores mestres do começo do século, tendo contato especial com Eliseu Visconti.
A pintura de Cela inicia-se totalmente acadêmica, tendo ele recebido, em 1917, como prêmio, uma viagem à Paris do Salão Nacional de Belas Artes, pela obra clássica Último Diálogo de Sócrates. A viagem só ocorreu em 1920, devido à guerra.
O artista permaneceu na França por dois anos, quando dedicou-se ao aprendizado da gravura em metal com Frane Brangwyn, pintor, gravador e litógrafo inglês. Seu trabalho nessa técnica é de excepcional qualidade. Suas gravuras, segundo o artista plástico e professor formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Adir Botelho, não são apenas registros gráficos, históricos, são obras universais no sentido e na expressão. Foi o pioneiro do ensino da gravura em metal na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, lecionando durante nove anos.
De volta ao Brasil, foi viver em Camocim, onde trabalhou durante dez anos como engenheiro de uma pequena usina elétrica. Em 1938, a pintura de um painel para o governo do Estado, representando a libertação dos escravos do Ceará o trouxe de volta à vida artística. Pouco depois, em 1940, estabeleceu-se em Fortaleza. O artista francês Jean Pierre Chabloz o conheceu nessa fase e encantou-se com sua obra.
Raimundo Cela, sendo um moderno, nunca foi um modernista. Ele apareceu justamente no momento da história cultural em que as artes iam ser atingidas pelo radicalismo de 1922. Criou-se, então, o mito que hoje vem sendo revisto pelos estudos sobre o pré-modernismo, de que aconteceu um hiato entre os mestres do século XIX e a Semana de Arte Moderna. Neste período, nada teria sido produzido de interessante e criativo. Os que surgiram naquela fase foram mantidos numa espécie de limbo cultural. Mas o valor da arte de Raimundo Cela deve-se ao fato de ter sido concebida à margem das escolas, de não ter sido contaminada pelos modismos passageiros.
Raimundo Cela retornou ao Rio de Janeiro em 1945. Tornou-se professor de gravura em metal da Escola Nacional de Belas Artes, cargo que ocuparia até a sua morte, em 1954. Nesta última fase da carreira, o pintor foi duas vezes premiado com a medalha de ouro do Salão Nacional de Belas Artes.