A exposição do MAB em São Paulo apresenta um fragmento de uma longa vida dedicada à arte, que corresponde ao perÃodo que transcorre do fim da década de 1950 ao começo dos anos 1970. Marinella produziu nesse interim obras visionárias, à frente do seu tempo, antecipando pesquisas que aconteceriam no resto da Europa apenas nos anos seguintes. São tais trabalhos que, de forma mais eloquente, colocam a artista em uma posição de relevância dentro da história da arte.
Na seleção de trabalho expostos nessa mostra, me concentrei naquele momento fundamental da vida de Marinella Pirelli onde a imagem inerte abre espaço para o movimento. Estão presentes os dois filmes de animação Gioco di Dama e Pinca e Palonca, frutos do estudo e do trabalho na Filmeco de Roma, e seis filmes gravados em 16mm ao longo do primeiro perÃodo em Varese, na segunda metade dos anos 1960. São experimentos fÃlmicos que tematizam a natureza e que envolvem uma fase intensa de estudo sobre as cores e a luz. A minha decisão foi de apresentá- los seguindo a técnica de projeção sobre fios, concebida por Marinella para as suas exposições nos últimos anos de vida, demonstrando como a relação com suas primeiras obras nunca se interrompeu.
A sessão dedicada às obras de cinema experimental se completa com dois filmes que se destacam dentro da produção de Marinella – Narciso, Film Esperienza (1965) e Doppio Autoritratto (1974) –, para quem eu destino um pequeno espaço separado. Aqui, a atenção de Marinella se afasta dos estudos dedicados às cores e à luz e se concentra na experiência criativa em si, no ato de filmar a si mesma e na tentativa de registrar a própria essência. Filmes lindos e de grande intensidade, que acredito possam dar uma visão mais completa da personalidade de Marinella, de sua experiência de ser, além de artista, mulher.
Sua obra de maior fôlego – o Filmambiente, que por razões de espaço não pôde ser incluÃdo nesta mostra – ganha algumas paredes onde estão afixados estudos, desenhos, projetos e fotos históricas maravilhosas, que se somam aos catálogos das exposições onde foi exposta a instalação entre o fim dos anos 1960 e o começos dos 1970. Como os desenhos e os projetos revelam a dedicação da artista e a profundidade de sua pesquisa, escolhi incluir também esboços e estudos produzidos no momento de máximo engajamento social. Cinco exemplares de Meteore, seus quadros de cor pura em movimento, completam a exposição.